Amor Platónico
Este Rio que era tão forte,
e que descia altivamente,
num leito já desenhado,
nos tempos de antigamente.
Viu suas rotas trancadas,
e na sua água, escumalha,
já parou, já mal se move,
mais parece um mar de palha.
Já não um Rio é Lago,
foi magia o que se fez?
Ou obra de engenharia?
Uma castração talvez…
Ainda tem os seus encantos,
ainda tem muita alegria,
mas não era o seu propósito,
só produzir energia.
Paisagens maravilhosas,
de azul a perder de vista,
margens verdes e viçosas,
são estas suas conquistas?
Mas a Terra que o abraça,
que em seu berço o aconchega,
aguarda sedenta de beijos,
deste Amor que não sossega.
A água que aqui ficou,
está no máximo da entrega,
no limite do prazer,
quer dar mais, mas mais não chega.
E os campos ali tão perto,
de gretas se enchem no verão,
aguardam gotas de chuva,
aguardam fecundação.
Pois a água que é promessa,
pela margem se quedou,
e o amor pela Terra virgem,
Platónico se transmutou.
Em noites de vento norte,
quando as vagas se revoltam,
é que as águas sem ter sorte,
em jogos de Amor apostam.
E escorrem pelas barreiras,
tentando chegar á Terra,
perdem o tempo em canseiras,
isto não é Amor, é guerra.
Tentam tomar por assalto,
o que lhe foi prometido,
mas o preço é muito alto,
jamais será conseguido.
Nem lhe chega a tomar o gosto,
a não ser pela trovoada,
que lhe leva o fel da Terra,
por entre a capa rasgada.
Cresce água na boca do Lago,
e só chega a provar a lama,
não toca os lábios da Terra,
não dá pra apagar a chama.
Triste sina a deste Lago,
em que a margem lhe é negada,
um mar de água ali tão perto,
e a terra a secar, gretada…
Gretada, a morrer de amores,
pela água abençoada,
que pausa e segue prós mares,
mas aqui não deixa nada.
José Dimas
2011
Olá,
ResponderEliminarEstou perpelexa!
É notório, a tua poesia esculpiu-se.
Começas a escrever com um cunho próprio e, principalmente dirigido ao colectivo.
Fazes-nos chegar neste poema, o sentimento que a todos é comum "tanta àgua para matar um rio" e tanta terra escaldando de sede.
Retrataste aqui o sentimento de muitos alentejamos, fiquei comovida, chorei...
Estás no caminho certo, estás a defenir-te como escritor, a seu tempo darei o meu apoio...só posso dar!
bjs
Bravo!!!
ResponderEliminarA grosso modo, poesia quer dizer: "a arte, que a ensina, e a obra feita com a arte".
Um belíssimo trabalho artístico, com muito conteúdo, significados e intencionalidade.
Parabéns!!
Beijos
Nya MEB