Número total de visualizações de páginas

sábado, 15 de janeiro de 2011

O céu dos sonhos dos gatos



O céu dos sonhos dos gatos






Os pássaros cortavam os pulsos com palavras da família da navalha, ao escutar o discurso do vento, que se fazia ouvir nas letras da sopa dos gatos; os gatos engasgavam-se na sopa de letras, asfixiando com palavras mal ditas, e os cães tentavam o suicídio, comendo as letras: VENENO, impressas nos jornais; ao verem as letras que se desenhavam, no céu dos sonhos dos gatos. 
-As palavras revoltaram-se!


Escritas no sangue do poeta, naufragavam rimas, vocábulos enrolados á volta dos glóbulos, e glóbulos estrangulando vocábulos, todos enrolados, no engarrafamento dos nódulos das veias do poeta.
Era o atropelo das rimas…
O filantropo, protegia-se com palavras incompletas, palavras altruístas, transpirando letras, que lhe emergiam da digestão das palavras escritas no céu; no céu dos sonhos dos gatos.
Exércitos de palavras assaltavam o parlamento defendido pelas palavras mentirosas do politico.
Era urgente legislar sobre as palavras mal ditas; acusou-se a escrita de sair mal dita da boca da mentira, e o mundo das palavras estava em estado de sitio…
No quartel-general, o dicionário, organizava-se a defesa da honra da escrita, delegando tarefas em palavras como a confiança, e a harmonia,
era preciso travar as palavras mal ditas antes que se formassem frases escritas, era preciso juntar a poesia das palavras, com as palavras!
Mas o poeta tinha as veias entupidas com nódulos de rimas.
E o filantropo protegia-se com o suor das suas palavras altruístas que emergiam dos dentes, do rilhar dos dentes, ruminadas e mal digeridas, lidas no céu dos sonhos dos gatos…
A Dona Mariquita apanhou umas dezenas de palavras que fugiam á pressa da Alma! Mau sinal… a ternura e o carinho estavam a apagar-se...
Era preciso juntar a poesia no Coração dos homens, antes que fosse tarde de mais…


Sangra-se o poeta?


Sangre-se o poeta.


Sangrou-se o poeta…

E as rimas espalharam-se pelos versos, que se cravaram nas paredes do coração das palavras.
Restabeleceu-se a ordem na desordem desordenada, e juntaram-se as palavras suspeitas de serem mal ditas numa casa fechada! No patíbulo aguardavam palavras como o ódio, a vingança, a ira, a cobardia,.. juntas com a fome, a pobreza, a subnutrição o abandono…
Tudo palavras Mal Ditas esperando por uma palavra…uma decisão em forma de palavra, pressupostamente Bem Dita.
Gritavam as palavras poderosas:
- Dissolvam-se as palavras em letras e acabe-se com essas letras do alfabeto.
Gritavam também as palavras desalinhadas: DISSOLVAM-SE, DISSOLVAM-SE…
Do pulso dos pássaros, e do céu dos sonhos dos gatos soltaram-se meia dúzia de palavras.


-Todas as letras nos fazem falta. Disseram estas seis palavras.


Calaram-se as hostes, e a palavra arrepio, percorreu as palavras todas, encrespando-as.


-Ao dissolvermos letras, dissolvemo-nos, mutilamo-nos.
Dissolvam-se e transmutem-se os sentimentos nelas contidos, juntemos essas palavras duas a duas, ao ÓDIO juntemos o AMOR, á VINGANÇA a COMPAIXÃO, á IRA juntemos a TERNURA, e á FOME juntemos o PÃO; todas vivem neste mundo, e todas tem razão, e só podemos aceitá-las se for com o CORAÇÃO.
Pois é, essas mesmas palavras, que matavam o gato e o cão, continham as mesmas letras que encontraram a solução.
Soltaram-se do meio das letras as palavras,POMBA BRANCA.
E aliviado o poeta, deixou soltar a EMOÇÃO, e com a leveza da ALMA, abraçou o CORAÇÃO, riscando com as asas do SONHO, o universo da PAIXÃO, e desenhando, NO CÉU DOS SONHOS DOS GATOS, a palavra que tinha mais à mão, que foi a palavra... PERDÃO!

Ainda de quando em vez, espreito no céu dos sonhos dos gatos, e admiro a Lua, no Universo do Perdão. E se me chora a alma; bebo as lágrimas com um sorriso...

“É necessário tempo, para agarrarmos o tempo
que fica parado nos Sonhos.”

 

José Dimas
2011



Perdão também peço eu, se vos fiz perder o vosso tempo, com esta pantomina de palavras. Se vos agradei, agradeço...

                                         ***********

"Nada é mais incômodo que o silencioso bastar-se dos gatos, o só pedir a quem amam, e só amar a quem os merece".
Artur da Távola




2 comentários:

  1. Bom dia, ou Boa noite! Quero antes de mais agradecer os diversos comentários á minha Escrita da Alma, que muito me enaltecem, até me fazem pensar que sou um grande poeta! Mas penso que eu sei aquilo que sou agora, conheço as minhas potêncialidades e os meus limites, posso dizer que sou "um poeta em construção", construindo-se, desmontando-se, e reconstruindo-se na Escrita. Tentando aperfeiçoar estilos próprios, e com algumas influências de poetas da Alma...
    De qualquer forma, valha eu o que valha, sinto-me muito grato, pela vossa presença aqui.
    Um bem Hajam!

    Quero também dizer, que mudei a estrutura deste poema, retirando do corpo do texto, a reflexão de Artur de Távola.
    Este texto é o original, esta obra foi licenciada com uma Licença "Creative Commons"

    Estou aberto a criticas, para poder melhorar....
    Que tenham uma boa vida!
    Abraço Carinhoso!

    ResponderEliminar
  2. Olá,

    Retribuo a finura de agradecimento aos comentários.

    E, aqui estamos perante um grande estilo de retórica, bela metáfora, excelentes figuras de estilo que, acredito empregues ao acaso, mas extraordináriamente bem conjugadas.

    « Em literatura o estilo é como o alcool para os corpos embalsamados, conserva-a.
    Quer isto dizer que o estilo seja arte? de modo algum.
    Mas sem estilo nenhuma obra de arte se salva...»
    já dizia Aquilino Ribeiro.

    Bjs

    ResponderEliminar