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quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Tempestades


Tempestades

Como as raízes de um velho chaparro
rasgam a terra,
assim os relâmpagos rasgam as nuvens,
fecundando-as de chuva…

Ribombam trovões que nem desalmados,
Gemem de frio as papoilas
nos prados,
e ecoam-lhe nas mágoas os lamentos calados...
O dia amanheceu triste, e o céu chora
em brados o seu pranto,
a solidão da planície, abraça-o
com o seu manto,
funde-se com a sua solidão,
com o seu abandono,
mais parece um furacão…
Soam trovões dentro da sua Alma,
e a tempestade de emoções,
turva-lhe os sentidos…
Olha-a bem nos olhos,
sente-lhe os latidos, veste a sua pele,
rosnando-lhe aos ouvidos,
como se não tivesse medo da morte,
quando no corpo, fétidos
lhe purgam todos os poros,
Pestilentos… Suados…
Doídos…
As faíscas riscam o Astro,
iluminando as estrelas,
o mar de água que escorre dos céus,
ensopa-lhe a Alma,
e ele nem consegue vê-las…
Veste-se o seu corpo de lágrimas,
lavando-lhe os poros eriçados,
e fluem memórias,
de choros que não foram chorados…
De braços abertos,
punhos crispados,
lamenta-se aos Céus,
maldiz os seus fados,
maldiz os seus passos mal encaminhados,
mas toma contacto,
com aquilo que é,
um átomo apenas,
dos biliões de dezenas,
dos milhares de milhões
de coisas pequenas,
e que num Universo de coisas tamanhas,
ele faz parte do Todo
até ás entranhas
.
José Dimas
2010

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Um só Ser



Um só Ser



É Outono,

Ontem já fez frio.

Com uma lufada do cheiro da chuva,

Chegou a mim um pensamento,

De noites frias, e lareiras,

Na primavera do nosso Amor,

Quando as nossas Almas

Se enleavam,

Madrugada fora,

Partilhando sentimentos

Silenciosamente,

No aconchego da carne

Exausta de prazer,

E Tu,

E Eu,

E Elas,

Nos fundíamos

Num só Ser.



José Dimas

2010

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Já não luto mais!

Já não luto mais!

Não lutes, entrega!

Aceita!

Aceita que é teu...

Ninguém o quer,

é mesmo teu,

faz parte de ti,

está alojado

nas tuas células,

no teu Coração,

na tua Alma,

faz parte do teu Ser...

Os outros

também têm,

os outros

também lutam,

os outros

também sentem...

Todos sentimos,

mas ninguém aceita,

ninguém o quer,

todos o desprezam,

faz parte do processo,

do teu processo,

do meu processo,
do processo global,

do Todo!

Não gosto dele!

Mas vou dar-lhe a mão,

e aceitá-lo...

Já não luto mais!


José Dimas

2010


segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Não quero escrever nas tuas folhas amarelas e mortas


Foto gentilmente cedida por Blogue Diário
Não quero escrever nas tuas folhas
amarelas e mortas.

Não quero escrever nas tuas folhas

amarelas e mortas

Quero escrever no verde dos teus brotos.

Quero sentir-te, acariciar os teus ramos,

abraçar o teu tronco,

Quero sentir o vento que te penetra renovando-se...

Não! Não quero escrever nas tuas folhas

amarelas e mortas.

Quero escrever com orvalho nas tuas flores,

e sentir na ponta do pincel a suavidade do veludo

das tuas pétalas.

Quero cantar às tuas raízes, embalá-las

no seu sono silencioso,

e quero que me mostres a beleza do mundo

do cimo da tua copa.



Quero ser como tu, quando for grande,

deixar para trás as cascas velhas, e crescer

na direcção da Luz,

com a serenidade das raízes bem cravadas na terra,

numa entrega perene.

Mas não quero escrever nas tuas folhas

amarelas e mortas.

Quero escrever na alvura do livro da vida

com palavras luminosas,

dessas que nascem todos os dias

com o pulsar do Coração.



José Dimas

2010

sábado, 25 de dezembro de 2010

O momento mais lindo


O momento mais lindo

Foi a noite mais linda,
das mais belas noites
em sonhos passada.

Foi o sonho mais lindo,
dos mais belos sonhos,
pela madrugada.

Foi o momento mais lindo,
dos mais belos momentos
desta história Sagrada.

Foste a mais linda estrela,
das estrelas mais belas
das noites estreladas.

Encontrei-te num sonho,
minha linda Sereia,
Princesa Encantada.

Estavas a sorrir,
com sorriso maroto
e toda aperaltada.

Cruzei-me contigo,
mas ias á pressa,
nem deste por nada.

Na crista da onda,
da mais alta onda,
nunca cavalgada.

Montei num golfinho,
mergulhei na onda,
segui-te a pegada.

De olhar no horizonte,
no mais lindo horizonte,
ias de empreitada.

Chegámos os dois,
cruzámos os mares,
só de uma assentada.

Alcançámos a meta,
a mais linda meta,
por ambos marcada.

Tocámos os lábios
com a pele eriçada,
e trocámos suores
pela madrugada,

Montámos cometas
e uma Estrela Alada,
despertámos vulcões
de lava inflamada.

E passou-se o momento
em menos de nada…

O momento mais lindo,
dos mais belos momentos
desta história sagrada…


José Dimas

2010

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Cigarro

Foto - olhares.aeiou- A. Dimas

Cigarro

Eras papel filtro e tabaco,
és agora cigarro,
feito por minhas mãos…
Deleitado te queimo.
Meus dedos amarelecem,
e enegrecem-me os neurónios,
enquanto lentamente me mato,
te mato,
e te deixo órfão,
já queimado, cinza no chão,
com a ponta do pé apagado…

Dei o golpe de misericórdia,
mas não chego a tapar o buraco
que me vai na Alma…

José Dimas
2010

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Vagas mágoas

Foto: António Dimas - Olhares
Vagas mágoas



Na nostalgia do timbre da ondas

Me envolvo,

E admiro o azul do mar,

Com o olhar no horizonte,

Na esperança que a volta da maré

Preencha o vazio que há em mim,

Mas a maré nada traz que eu já não tenha,

Difunde choros silenciosos, e mágoas,

Lamentos calados no silêncio das águas,

No rebentamento ruge o mar, grita de raiva,

Aviva-me as sombras, e não traz paz!

Esquadrinho o oceano, e nada avisto,

Nem barco, nem bóia, nem tábua,

Procuro o silêncio dentro de mim,

Mas está ausente,

Foi nos braços das vagas

Pró fundo do mar,

Deu lugar ao eco das mágoas,

E lamentos calados que trouxe a maré,

Num choro mudo, rugindo

No rebentamento das vagas.



José Dimas

2010

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Equilibrio


Equilibrio

Quando o sol baixa no horizonte,
Com toda a sua imponência e esplendor,
Timidamente, e aos poucos,
O brilho das estrelas alumia a noite e as sombras.
Afloram então, misturados no brilho das estrelas,
Os milhões de sonhos por sonhar,
Os milhões de carinhos que não foram dados,
E os milhões de abraços guardados!
Do fundo da Alma emerge um lamento mudo,
Acompanhado de uma lágrima seca,
E de um choro que não quer ser chorado.
Na alquimia das palavras,
Metafísica dos sonhos,
Salta de galho em galho um sentimento,
Ténue como a neblina,
Forte como o vento,
Flagela o Coração e torna-se argumento.
De mil milhões de palavras caladas,
Perfilam e agrupam-se algumas, escapadas,
Reivindicam o direito de ser frase,
Estão revoltadas!
Com a permissão da alma e o acordo do Coração,
Forma-se a frase que é sussurrada ao vento,
Para fazer eco nas estrelas e ai, amplificada,
Ser escutada por todas as Deusas
E Deuses na sua humana divindade.

Mantém-te no equilíbrio
Não deixes de estar centrado
O Amor é o Caminho
Que te leva a todo o lado


José Dimas
2010

Simplicidade


Simplicidade


É quase dia, no jardim

Da minha rua,

É quase dia de Outono,

Nas árvores do jardim

Da minha rua,

Quando o dia começa,

No jardim

Da minha rua,

Recomeça a vida,

Despreocupada e simples,

Dos seus milhentos

Seres viventes,

Em harmonia.

Sentado num banco

De jardim,

No jardim

Da minha rua,

Observo que tudo

Simplesmente existe,

Harmoniosamente.

Com a naturalidade

Do nascer do sol,

A árvore é árvore,

O pássaro é pássaro,

O peixe do lago é peixe,

A joaninha é joaninha,

E a flor é flor,

No jardim

Da minha rua,

As coisas simplesmente,

São!

Unas com o Universo!



É já dia de Outono,

No jardim

Da minha rua,

Hoje o céu está nublado,

Baralham-se-me as ideias.



É tão difícil Ser Simples...



José Dimas

Out 2010


Palavras


.



Palavras



Escrevo porque ao fazê-lo

Desaparece a sombra das horas,

E dá lugar á Luz

Que em mim formiga,

Transmutando-as em horas

Luminosas,

Plenas de querer, e sentir,

Com toda a energia

Que um Ser pode desejar.

Escrevo, porque da escrita

Nasce o Amor pelas palavras

Até serem palavrinhas,

Até serem mimos e carinhos,

Até serem novamente escrita,

Escrevo, porque enquanto o faço,

Uma parte de mim se envolve na

Dança dos versos,

E outra parte de mim se mistura

Nas palavras rabiscadas,

Como o sal se mistura na sopa,

Condimentando vocábulos

Com um bocadinho do meu Ser,

Da minha essência,

Escrevo,

E quando a sopa de letras

Está pronta,

Saboreio bocadinhos de mim

Que ainda não conhecia,

Uns amargos, outros doces

E outros,

Amargos e doces.



José Dimas

2010

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

És um Ser Excelente!


És um Ser Excelente!

És um Ser Perfeito!
Respiras Felicidade e Amor,
com a pureza
de quem transporta na Alma
a luz mágica da Vida.
És um Ser inteiro,
numa condição fragmentada,
de memórias do sentir,
inalando brisas de paixão,
no despertar da consciência Universal,
e coleccionas sonhos Mágicos,
que só a pureza dos teus pensamentos,
consegue tornar realidades.
O Mundo…
Visto com os olhos do teu Coração,
tem a Luz e a alvura,
da vibração da tua Alma,
em uníssono com a vibração Universal,
a vibração do Amor e da Felicidade…
És um Ser Excelente!

José Dimas
2010

Plátanos gnomos e fadas


Plátanos gnomos e fadas


Por entre as folhas amarelas
Do velho plátano,
Espreita timidamente a lua, cheia.
Na próxima lua já vai ter menos folhas,
Mas não pára de crescer,
As suas raízes continuam a aumentar,
Tornando-a cada dia mais resistente,
Mais flexível, mais árvore, mais Ser!
Existência solitária, a da árvore,
Árdua tarefa renascer todos os anos,
E crescer a partir dai, cada dia mais forte,
Grande Mestre o plátano, quando observado
Na sua essência,
Suporta temporais com a graciosidade
De um dia de primavera,
E cresce a partir do Amor por ser árvore,
Amor pelo Self,

Nos raios de luar que brindam o jardim,
Suspendem-se gnomos e fadas,
Celebrando, a existência do real
E do mágico, num mundo de misturas
Fantásticas, onde o Amor se diz
Na primeira pessoa, celebra-se o Verbo,
E observa-se a melodia das estrelas,
Em harmonia,

Para ver os gnomos e fadas do jardim,
É necessário ser plátano, ser gnomo, e ser fada,
E só nesse estado é possível ver a magia
Que existe no jardim, e na criança,
Que carrega na sua essência,
Um plátano, uma fada, e um gnomo,
E sonha todos os sonhos do mundo,
Silenciosamente…


José Dimas
2010

Lua cheia de Emoções


Lua cheia de Emoções




Hoje está cheia, e convida-me a senti-la,

a fazer parte dela.

Entra pelos meus poros como o ar que respiro,

Inundando-me com uma energia indescritível,

como um chamamento animal, primário,

que me entorpece…



Abre a janela e deixa-me chegar a ti na Luz do luar,

deixa-me brilhar no brilho dos teus olhos,

e perde-te comigo esta noite,

perde-te comigo nos jardins de Vénus.

Mergulha na minha essência e aquece-te,

aquece-te no calor do meu sentir.

Envolve o teu Coração no meu e fala-lhe

de Amor ao ouvido,

Quero ser Uno contigo e a Luz do luar,

enlear a minha Alma na Tua,

e sentir o que só os Deuses sentem.

Quero sentir o frenesim da carne, sentir os poros a abrir

e o corpo todo a tremer,

sentir o contacto com o Divino em mim,

e m nós, no Todo…





Nos jardins de Vénus...perdidos no regaço de Afrodite...


perdidos num sentimento maior…



José Dimas

2010

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Amanhece...


Foto-http://olhares.aeiou.pt/madrugada_foto779567.html (António Dimas)


Amanhece...


Amanhece no lago! Amanhece também
no meu Coração.
Na lareira ainda ardem dois troncos
de azinho,
resquícios da noite na consumação dos corpos.
Ávidos de prazer, consomem-se até á cinza,
até ao pó da terra.
Lá fora o melro repenica no silvado,
e o som dos seus silvos ecoa
na alma das águas,
que se mostra hoje,
como se de uma neblina mágica se tratasse ,
com tons quentes do arco-íris,
Devias ver…
Mas o teu sorriso é tão sereno,
que não tenho coragem de te resgatar
dos braços de Morfeu,
a tua proximidade ainda me arde na pele
e ainda me abrasa nos sentidos…

Altivo e majestoso, o Astro Rei
eleva-se no montado sobranceiro ao lago,
os primeiros raios de sol
que penetram o nevoeiro,
provocam uma explosão de alegria, e energia,
na transmutação do vapor da água
em milhões de partículas luminosas,
multicolores,
com uma orquestra maravilhosa da mãe natureza,
entoando uma partitura sem igual,
a partitura do nascer do dia
e do renascer da vida…
Devias ver…
A azáfama do recomeço,
mas adormeceste tarde,
exausta de prazer,
no quarto ainda pairam milhões de beijos,
misturados na neblina do vapor dos corpos…
Recordo as últimas palavras que disseste
antes de adormecer:
“se eu morresse agora,
não precisava procurar o caminho
para o paraíso”…
repousas sobre a pele de carneiro,
na proximidade de dois paus de azinho
que se consomem até ao pó da terra
até à origem…
O rubro calor do teu corpo
convida-me a degustar a dois
o conforto da lã,
e a mergulhar nos teus sonhos,
enquanto encaixo o meu corpo no teu,
enquanto encaixo a minha alma na tua,
entregando-me aos teus carinhos,
no reino de Morfeu…

José Dimas
2010

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

És especial para mim!!!


Existem pessoas tão especiais,
que só se encontram uma vez na vida.
Eu tive a honra de te conhecer,
e a partir desse dia,
mudaste a minha forma de amar,
ensinaste-me a ver mais beleza nos pormenores,
a observá-los com os olhos da alma,
e inflamaste a minha veia de poeta,
extravasando até ao limite da minha imaginação...
Brafma
2010

sábado, 11 de dezembro de 2010

Onde andas tu?... Princesa encantada…

Foto - Site olhares"Antonio Dimas"

Onde andas tu?... Princesa encantada…


Um suspiro da Alma, um sopro,
um lamento,
palavras soltas largadas no vento,
com os olhos no mar,
e no firmamento.
Onde andas tu?... Princesa encantada,
que eu olho nas estrelas e não vejo nada,
procuro o teu rosto formoso ao passar,
de sorriso na face,
olhos a brilhar,
procuro a Essência que faz parte de ti,
procurei-te nos sonhos,
mas não te vi,
procuro-te nos campos e nas multidões,
mas tu estás no silêncio das emoções.
Coração apertado ao vento confesso,
o que me vai na alma,
e o quanto entristeço…
Mas tenho a certeza que te vou encontrar,
sorriso rasgado,
brilho no olhar,
na areia da praia bebendo o luar,
e semeando sonhos,
nas ondas do mar,
e eu grito ao vento p’ra ele levar,
todo o meu lamento,
para se afogar,
e renascer em sonhos por ti semeados,
em águas perenes
de amores almejados.
Minhas doces palavras,
imortais no tempo,
chegam a ti em todo o momento,
sopram-te ao ouvido,
carícias do vento
são suaves mimos,
já não são lamento…
Dizer que te Amo já foi muito usado,
nós estamos num Plano muito mais Elevado,
somos seres de Luz,
sem destino traçado,
e um Ser inteiro, juntos…
lado a lado…
Espero por ti Princesa Encantada,
de brilho nos olhos
e Alma lavada,
aguardo esse beijo que tens p’ra me dar,
e sinto cá dentro bem fundo no Ser
que chegado esse dia
eu vou renascer,
pois além do beijo que tu tens guardado,
tens o pedaço da minh’alma,
que anda tresmalhado…

José Dimas
2010

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Seres Normais


No doce calor de

Abril

Tivemos tudo na

Mão,

Nas pétalas dum

Cravo Vermelho,

Foi-nos entregue

A semente,

Do que chamamos

Nação,

Mas não soubemos

Regá-la,

Entregámo-la ao

Patrão,

A troco de uma

Palmada,

E dum beijinho na

Mão,

Coitado de Portugal,

De Espanha País

Irmão,

Com este continuar,

De politica actual,

Vai afundar

A Nação!

Já sopram ventos

De Abril,

Já cheira a

Revolução!

E dentro do meu

Coração

Organizam-se os

Temores,

No fígado se junta a

Raiva,

E no estômago os

Rancores,

Todos juntos somos

Muitos,

Mas nunca somos

Demais,

Exigimos ser felizes,

Somos todos

Seres iguais,

Uns, reflexo dos

Outros,

Mas de resto

Seres normais,

Exigimos muito

Amor,

Muita Luz no

Coração,

Muito carinho e

Respeito,

E que nunca nos

Falte o pão,

Tudo o mais já é

Direito,

Que não nos podem

Tirar,

Exigimos igualdade,

Na maneira de

Tratar,

Somos todos seres

Iguais,

Uns, reflexo dos

Outros,

Mas de resto

Seres normais.



José Dimas

2010

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Os amantes passaram e não viram nada


Os Amantes passaram e não viram nada...




Os aromas do vale inebriam os sentidos,

alecrim, rosmaninho, estevas e montrasto

fundem-se numa dança sensual,

Abarcando os amantes numa entrega total,

ao som das rãs dos grilos e das cigarras,

O aroma da partitura é tarde soalheira

dum Verão maduro, com cheiro a loendros

peras bravias e flor de laranjeira.

Imiscuindo-se no vale, o lago também se deleita,

chocalhando murmúrios nas margens cavadas

e marcando o ritmo da dança dos aromas.

Trina o rouxinol no carriço amarfanhado

que brota das águas,

Despertando peixes que tatuam a compasso,

círculos mágicos na pele do lago,

Nesta suave turbulência se espelha o sol

que desce pró outro lado da terra,

deixando atrás de si um mar de laranja,

e uma serenidade apaziguadora,

enquanto a penumbra se instala no vale.

Na relva só ficou o suor, e os gemidos mudos

de quem sabe amar.

Na plenitude da noite descem raios de luar

e o lago aquietado começa a brilhar,

Os milhões de estrelas estão todas ali

nas águas brilhantes, reflexos de Ti,

Abençoando a entrega na erva orvalhada,

onde os choupos crescem em busca de Luz,

e os aromas se misturam numa dança sensual.



Os amantes passaram e não viram nada...

Seguiram exaustos,

Levando com eles a entrega total.



José Dimas

2010

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Flexibilidade

Foto do site Olhares

Flexibilidade

As pedras xistosas que cobrem o chão
Gemem água,
transpiram já o inverno que se aproxima…

Escapadas à pressa da Alma,
com medo da dor,
duas lágrimas escorrem pelo rosto,
e precipitam-se no vazio,
saltam no abismo,
e misturam-se no suor do xisto…

O rac..rac.. do bicho da madeira
nas traves do sobrado,
faz vibrar a teia de aranha,
suspensa por suaves fios de seda,
trémulos.
Resplandecem a captura da noite:
a luz das estrelas, que de viés,
penetra a telha de vidro!
Prende-se-me nele o pensamento,
na resistência de tão singela linha,
tão fina e tão forte,
capaz de resistir às intempéries,
frágil no singular,
flexível na teia,
forte na essência,
dobra, estica, mas raramente parte…
Que Mestre a teia de aranha…

Apetece-me agora procurar,
as lágrimas afogadas
no mar de suor do xisto,
para lhes dizer que estão perdoadas,
e que eu Simplesmente existo,
aceito a minha fragilidade,
tentando ser flexível,
faço os meus lutos,
e bebo na essência,
escutando o meu Coração.
É que eu aprendi,
que ser flexível, não significa
ser fraco…

José Dimas
2010

sábado, 4 de dezembro de 2010

Duas Almas um só espaço



Duas Almas um só espaço


Trémulas me saem as palavras
na hora em que me despeço de ti…
E em cada beijo que te dou,
trémulo me entrego…
A cada despedida te sinto mais próxima,
a cada reencontro me sinto mais dentro de ti,
mais dentro da tua Alma.
Em cada partilha que faço,
te entrego mais um pouco de mim,
mais um pouco do meu Ser,
e cada descoberta de mim, em ti,
me parece uma redescoberta,
de dois seres que já se conhecem
até à exaustão,
tenho muito presente em mim,
o sentimento,
de que quanto mais te conheço
melhor me conheço,
parece-me que andei
escondido de mim este tempo todo,
e vim a encontrar-me em ti,
no carinho e ternura do teu abraço,
na alvura luminosa do teu sorriso,
e no calor do teu regaço…

duas Almas
a partilhar o mesmo espaço…

José Dimas
2010

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Chamei-te nos sonhos

Foto-António Dimas



Chamei-te nos sonhos...

Chamei-te nos sonhos mas tu não estavas,


dormias um sono sem sonhos,


à guarda de um Anjo que te mirava,


e em ti repousavam,


todos os temores da minha existência...


José Dimas
2010

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Olho no olho Alma na Alma


Olho no olho, Alma na Alma



Olho no olho, Alma na Alma,
há festim no templo dos
Sentidos.
Medita-se no silêncio e na quietude da noite,
procurando o Divino que existe em nós,
que habita em nós…
Como corpo nu que adormece no sol de verão,
assim me ruboresce a pele,
ao respirar profundamente,
olhando nos teus olhos.
Um arrepio de frio percorre-me a coluna
provocando espasmos no sentir,
a pele pica de eriçada, e queima de prazer,
na panela do vulcão fervilham emoções,
em convulsões
de carne embriagada nos sentidos.
Respiro mais profundamente
olhando nos teus olhos,
a Tua proximidade entorpece-me,
e a maçã-de-adão no meu pescoço,
aperta-me um grito louco de ternura,

que reclama Liberdade,
que teima em sair,
que teima em ser livre,
como o suor frio que escorre,
por todos os poros intumescidos do Ser.
Respiramos profundamente
com ritmo acelerado,
olho no olho, Alma na Alma,
entramos tão dentro
um do outro,
que até doem os sentidos, em deleite,
até não doer mais,
solta-se o grito louco que teimava em sair,
e solta-se um mar de Emoções
pelas encostas do sentir,
queimando de prazer a carne que estremece
ao ritmo do Coração,
incendiando sensações…
Oiço Anjos a declamar poesia dentro de mim,
e passarinhos,
a entoar a mais bela melodia, que eu já ouvi
em toda a minha vida,
enraízo neste sentimento e aquieto a minha mente,
com o teu olho no meu olho,
a minha Alma na tua Alma,
e o meu Coração enleado no teu…

José Dimas
2010

Conversas caladas



Conversas caladas

Falamos calados, como sempre fizemos,
Jogamos pedras com os olhos,
E cuspimos fogo pelas ventas,
Por escassez de coragem para exprimir
Sentimentos,
Falamos calados, mas lamentamo-nos
De nada dizer,
Os olhos ardem, e os ouvidos zumbem,
Ficamos para além do sentir,
Engolimos em seco, quando temos na boca
Um rio, de palavras por fluir,
Alimentando a crença de que
Não adianta chorar,
Porque ninguém vai ouvir,
Inconscientemente, tomamos contacto
Com registos de dor e abandono,
Com a criança ferida,
Só falamos calados, porque naquele tempo
Ainda não sabíamos falar,
E calamos, porque quando aprendemos
A falar,
Logo de seguida nos mandam calar,
E nem nos deixam chorar, (CALA-TE JÁ!),
Porque lhes bate no choro deles
Que não foi chorado,
E agora que podemos, não podemos,
Porque aprendemos a não chorar,
A calar,
E assim, o teu choro é o meu choro
Calado,
E o meu silêncio, é o teu silêncio chorado...

Arrebitamos, e seguimos Caminho,
Fazendo como sempre fizemos,
Falando calados, jogando pedras
Com os olhos,
E cuspindo fogo pelas ventas…
Como se nunca tivéssemos Amado.

José Dimas
2010

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Conexões



Amanhece lá fora,

Alaga o quarto uma mescla de toxinas,

Conservadas em álcool vaporizado na sombra

Da aurora,

Resquícios da noite passam em turbilhão,

Varrendo o recinto do pensar,

A boca secou, e na cabeça que não pára,

Ainda bailam ébrias memórias, nas brumas,

Onde brindam meretrizes, etílica mente ousadas,

Etílica mente sensuais,

Fede a carne de desejo, e fica o paraíso

À distância de um beijo,

Carinhos ternos abarcam Vénus e Baco

Numa orgia de sentidos, sentida,

Escorrem néctares em poços sem fundo,

E a dança dos corpos ao rubro, cospe prazer,

Preenchendo os vazios de forma efémera,

Projecto provisório de sonhos de Amar,

Que soçobra num apalpar de nada,

Gira o mundo e volta a girar, uma, e outra,

E muitas outras vezes,

Encontro de abandonos,

Sem o tempo passar, sem o tempo parar,

Sem o tempo chegar…



Pela fresta da janela atreve-se um raio de sol,

Aos poucos alumia o quarto,

Milhões de partículas embriagadas

Envolvem-se numa valsa,

Girando e conectando,

Aos poucos clareia a mente,

Milhões de neurónios ressacados,

Reconstroem-se no torpor da lascívia,

Girando e conectando,

Aos poucos me volto a montar, mirando,

E tentando conectar…



José Dimas

Out__ 2010

Chove


Chove



Amanheceu cinzento e chove lá fora,


chove também na minha Alma.


Hoje acordei com uma vontade tremenda

de voltar a dormir outra vez,

e sonhar o mesmo sonho, onde tu ainda estás…

Com a chuva vem o frio, e as noites frias,

imensas.

Memórias de tertúlias á lareira,

quando a vida ainda tinha calor,

agora com o Outono, gela-se-me a Alma,

inunda-se-me o Coração de sentimentos,

e rebenta-me um rio de tristezas pelos olhos,

que não chega a encontrar o mar…



José Dimas

nov___2010