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segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Nossa Senhora do Carmo



Nossa Senhora do Carmo


"Nossa Senhora do Carmo"... entoa o alto.
 Parece que as palavras cantadas,
ganham vida na Capela.
Os trajes alentejanos,
os pelicos e os safões que os homens envergam,
vestem as palavras com uma ênfase similar,
fazendo-as chorar nos ouvidos da Santinha.
Os pelos do corpo eriçam-se,
e picam a carne, com a delicia das vozes,
cantadas;
e das palavras,
sentidas;
é geral;
as lágrimas de emoção cobrem os rostos,
 espalham-se nas vozes cantadas
e no chão da Capela...
No fim da moda todos cantam...
-“Todos lá vamos…, ajoelhar…!”
Como se, de um só grupo coral se tratasse!
Como se, todas estas Almas cantassem só numa voz,
só numa Alma!
As palavras ocupam agora o pensamento, e a Alma solta-se,
na Capela… mesmo sem o corpo deixar…
e enrola-se nas notas das vozes
-“a cantar, e a cantar, vamos rezar”…

Bem hajam Almas cantantes,
que me ajudam a lavar a minha...

José Dimas
2011

domingo, 30 de janeiro de 2011

Nevoeiro


Nevoeiro

Denso, húmido, branco, leve, agarrado à terra!
Parece sorver as oliveiras,
enquanto que, com os seus dedos, lhes penteia as folhas,
                                                  saciando-lhes a sede.
As azeitonas, negras, por cima da capa de névoa,
                            reflectem o brilho do nascer do dia,
espelhando-se no violeta do Céu, e no rosa
                                                                das nuvens.
Sobressaindo das brumas, as copas das árvores,
                                      dançam a suave brisa matinal,
convidando os tordos a degustar um pouco de si,
                            como as meretrizes vendem o corpo,
                                                               exibindo-se;
no seu brilho, na sua essência, semi-nuas,
                                                  vestidas de nevoeiro,  
                                                   despidas de pudor…
São assim. Insinuantes e selvagens, as oliveiras,
                                 detrás do quintal da minha casa,
                                                   são como os tordos,
mais este nevoeiro que me sorveu.

José Dimas
2011

sábado, 29 de janeiro de 2011

Saluquia

António Galvão "Saluquia à espera"


Saluquia



Saluquia, Princesa formosa,
das terras de Al-Manijah,
cheirava a pétalas de rosa,
e o seu Deus era o Allah.

Esperava o apaixonado,
na torre do seu castelo,
era Brafma, o afortunado,
um Príncipe muito belo,

que vinha de terras distantes,
pra com ela se casar,
não contando que nos montes,
os Cristãos ia encontrar.

Grande luta se travou,
entre os Cristãos e a Mourama,
e ali Brafma se prostrou
ali se apagou a chama.

Ali se apagou a chama,  
que no seu peito trazia,
viera cair na trama,
e no barro; frio; jazia.

Com roupas mouras trajadas,
as tropas cristãs entraram,
pelas portas escancaradas,
do castelo que atacaram.

Saluquia na sua torre,
tarde demais descobrira,
que não era o seu Amor,
que era tudo uma mentira.

Não vendo melhor solução,
com o castelo conquistado,
fechou as chaves na mão,
e foi ter com seu Amado.

Saltou de janela aberta,
Linda, pura, santa, e casta,
nos braços da morte certa,
que a vida lhe foi madrasta.

Ainda em noites de luar,
sempre que é Lua Cheia,
ouve-se Saluquia a chorar,
lá no cimo da ameia.

Chora pelo seu Amado,
que ainda espera ver chegar,
num lindo cavalo montado,
pra com ela se casar.

José Dimas
2011

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Alentejo, a terra e o pão

                                                   
   Alentejo, a terra, e o pão,

 

De cor escura, e pele queimada,
pisando em terra lavrada,
a passo enterrava a vida,
essa vida abençoada.

Assim era antigamente,
em tempos que já lá vão,
rasgava-se a terra à Besta,
e semeava-se o trigo à mão.

O sol abrasava os corpos,
dos homens nos seus labores,
entoando lindas modas,
cantadas aos seus Amores.

Esqueciam sua tristeza,
e esse fado que era a vida,
trabalho de sol a sol,
em troca de meia espiga.

Com parcos  recursos, poucos,
estava a terra semeada,
e era só colher o trigo,
voltava a ficar lavrada.

Agora não se vê disso,
não se vê mar de trigais,
os campos não estão doirados,
só se avistam olivais.

Já se emprega pouca gente,
máquinas, cada vez mais,
e o trigo que se produz,
já não dá pra três pardais.

E a terra do Alentejo,
do trigo de antigamente,
é um enorme pousio,
já não produz pão pra gente.

José Dimas
2011

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Escalada



Escalada

Escalei o teu corpo, a nado,
bebendo de quando em quando,
bocadinhos de ti.
E nem cheguei a tocar-te...


José Dimas

domingo, 23 de janeiro de 2011

Um rio no meu travesseiro


Um rio no meu traveesseiro


Um rio no meu travesseiro


Ontem mergulhei, exausto,
num sonho de lágrimas,
cansado de ser verdadeiro…
Hoje amanheceu um rio
no meu travesseiro.

Mas não era um rio de lágrimas,
era sim um rio inteiro.
E foi este o rio primeiro,
que dos meus sonhos sonhados,
me acordou a Alma aos brados.
Nasceu no meu travesseiro,
inundando imensos prados,
onde sonhos semeados,
sonhos de todas as cores,
cheios de Amores, e Desamores,
derivaram naufragados.
Desaguou na minha foz,
afastando os meus temores,
na foz dos sonhos sonhados,
despertando novos sonhos,
até estarem acordados.

Acordados e com cheiro!
Hoje;
Amanheceu um rio no meu travesseiro!

José Dimas
2011

sábado, 22 de janeiro de 2011

A ti João

A ti João

As palavras que hoje escrevo,
são escritas com emoção,
pelo calor dos carinhos,
que envolve o meu Coração.
A ti João:

Perguntavas o porquê
das coisas que não sabias,
eu tentava respingar,
e se tu não percebias,
perguntavas outra vez,
e outra, e outra, até saber.
E a todas eu respondia,
ou tentava responder
só o conseguindo por vezes,
em forma de alegoria..
Penso que fui paciente,
como tu o foste comigo,
sinto-te sempre presente,
não é só filho, és Amigo.
E o que em tempos eu te disse,
Aqui o digo e repito:

Há muitos Caminhos na Vida,
Caminhos que nós escolhemos,
e os destinos alcançados,
são resultado de escolhas,
de escolhas que nós fazemos.
Seja qual for o Caminho,
escolhido, por ti, sozinho,
eu estarei sempre presente,
com muito Amor e Carinho.

E abraço este sentimento,
comovido e envolto em brilho,
Abençoado o momento,
em que nasceste meu filho.

       ************

Também agradeço da Alma,
e do fundo do Coração,
os lindos filhos que tenho,
sem nenhuma distinção,
para vocês o meu Amor,
e toda a minha Gratidão,
Inês, Francisco, e João!

José Dimas
2011

Limites



Limites

Como seria fácil
ver os limites da minha Alma,
se conseguisse,
de vez,
iluminar o buraco negro,
que teima
em tragar galáxias de emoções…

José Dimas
2011 


Torre de Babel

                                       Torre de Babel

Cerra os punhos o poeta,
                                                entornando no papel,
palavras enraivecidas  canalizadas do fel
                                       com mil emoções contidas,
pois da Torre de Babel que o poeta construiu,
                                             um mar de sonhos ruiu,
sonhos com sabor a mel,
embrulhados no vazio que o poeta em si sentiu,
terrível castigo meu Deus,
                                                que castigo tão cruel,
por querer sonhar sonhos Teus,
por querer estar perto de Ti nessa torre de Babel.

E o Seu Tigre até rugiu,
                                     quando no Todo,
                                                                     Confluiu,
um mar de sonhos em papel,
                                                  que o castigo dividiu,
que castigo tão cruel…

José Dimas
2011

PASSAS NO MURO

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

contactos



Contactos


Fechei os meus olhos e procurei-te,
                                    na tentativa de me encontrar.
Procurei-te,
                                       no Sol, na Lua, nas Estrelas…
Mas não te encontrei.
Procurei-te nos confins do Mundo,
                                      nos sete Mares, nas estepes,
nos desertos, nas montanhas geladas,
                                                   no Coração da terra…
Mas também não te encontrei.
Procurei-te exaustivamente
                                                   por todo o Universo…
Mas nem sinal de ti.
Cansado, aquietei a mente,
deixei de Te procurar, deixei de Me procurar,
                                          deixei de tentar perceber...
Deixei de pensar…

.… e encontrei-Te em Mim,
                                                 encontrando-me em Ti.


José  Dimas

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Mar Deserto


Mar Deserto

Neste Mar, Deserto, do meu Corpo,
todas as minhas células se oxigenam;
pois o vento que alvoroça as vagas,
é o mesmo que penteia as dunas…

José Dimas
2011

Insolência

Insolência

Dá-me só um mimo teu,
um carinho do teu Coração,
para que eu possa sentir
a essência do teu Ser,
novamente,

Preciso do beijo que ficou
preso nos lábios,
e da lágrima que secou
no rosto,
preciso da palavra que morreu
na garganta, tantas vezes…

Preciso da tua escuta,
quando o Outono se instala
em mim,
preciso de um afago na Alma,
desses que só tu sabes dar.

Preciso de ti, do teu sentir,
quando as noites se tornam
imensas e escuras,
com a ausência do teu brilho,

Necessito do teu colo,
quando lá fora troveja,
e o meu interior está
cinzento e confuso.

Dá-me só um afago teu,
um carinho do teu Coração,
e  perdoa a minha
insolência,
mas dá-me também,
um bocadinho do teu Amor.

José Dimas

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Arde-me a Alma de dor



Arde-me a Alma de dor

Arde-me a Alma de dor,
                                   e o frio que sinto 
queima-me as entranhas.

Sinto uma ferida nas minhas
                                                 emoções,
que me magoa doendo
                                e magoando mais,
o contacto com o vazio
                                           foi tão forte,
que ainda me picam 
                             os pelos nos braços.
Onde estavas tu?

Que eu agora
                               não me encontro....

José Dimas
Nov_2010

Lágrima de fogo


 
 
 
Lágrima de fogo
 
Queima-me a pele
a lágrima que escorre
pela minha face,
cuspida por uma Alma
que se consome...
...de mágoa.
 
José Dimas
2011

O quarto sem teto


O quarto sem teto

Conheço de cor estas paredes,
já escrevi nelas, tantas vidas,
tantos sonhos,
já me vi nelas milhares de vezes...

A cada palavra que escrevo,
a cada verso que nasce,
é mais um pouco de luz,
que salpica de lágrimas
as paredes do quarto,
sem portas,
sem janelas,
sem teto,
mas todo escrito,
a pinceladas de cansaço,
de noites brancas,
de pouca luz e muito silêncio...

Letra a letra,
palavra a palavra,
desenha-se mais uma vida,
no muro,
escorrendo sonhos, até ao teto
do quarto sem portas,
sem janelas,
e sem teto.

José Dimas