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quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Amor Platónico



Amor Platónico

Este Rio que era tão forte,
e que descia altivamente,
num leito já desenhado,
nos tempos de antigamente.

Viu suas rotas trancadas,
e na sua água, escumalha,
já parou, já mal se move,
mais parece um mar de palha.

Já não um Rio é Lago,
foi magia o que se fez?
Ou obra de engenharia?
Uma castração talvez…

Ainda tem os seus encantos,
ainda tem muita alegria,
mas não era o seu propósito,
só produzir energia.

Paisagens maravilhosas,
de azul a perder de vista,
margens verdes e viçosas,
são estas suas conquistas?

Mas a Terra que o abraça,
que em seu berço o aconchega,
aguarda sedenta de beijos,
deste Amor que não sossega. 

A água que aqui ficou,
está no máximo da entrega,
no limite do prazer,
quer dar mais, mas mais não chega.

E os campos ali tão perto,
de gretas se enchem no verão,
aguardam gotas de chuva,
aguardam fecundação.

Pois a água que é promessa,
pela margem se quedou,
e o amor pela Terra virgem,
Platónico se transmutou.

Em noites de vento norte,
quando as vagas se revoltam,
é que as águas sem ter sorte,
em jogos de Amor apostam.

E escorrem pelas barreiras,
tentando chegar á Terra,
perdem o tempo em canseiras,
isto não é Amor, é guerra.

Tentam tomar por assalto,
o que lhe foi prometido,
mas o preço é muito alto,
jamais será conseguido.

  Nem lhe chega a tomar o gosto,
a não ser pela trovoada,
que lhe leva o fel da Terra,
por entre a capa rasgada.

Cresce água na boca do Lago,
e só chega a provar a lama,
não toca os lábios da Terra,
não dá pra apagar a chama.

Triste sina a deste Lago,
em que a margem lhe é negada,
um mar de água ali tão perto,
e a terra a secar, gretada…

Gretada, a morrer de amores,
pela água abençoada,
que pausa e segue prós mares,
mas aqui não deixa nada.

José Dimas
2011

2 comentários:

  1. Olá,

    Estou perpelexa!

    É notório, a tua poesia esculpiu-se.
    Começas a escrever com um cunho próprio e, principalmente dirigido ao colectivo.
    Fazes-nos chegar neste poema, o sentimento que a todos é comum "tanta àgua para matar um rio" e tanta terra escaldando de sede.

    Retrataste aqui o sentimento de muitos alentejamos, fiquei comovida, chorei...

    Estás no caminho certo, estás a defenir-te como escritor, a seu tempo darei o meu apoio...só posso dar!
    bjs

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  2. Bravo!!!
    A grosso modo, poesia quer dizer: "a arte, que a ensina, e a obra feita com a arte".
    Um belíssimo trabalho artístico, com muito conteúdo, significados e intencionalidade.
    Parabéns!!
    Beijos
    Nya MEB

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